terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Receita de Ano Novo

(Carlos Drummond de Andrade) 
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções

para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Texto extraído do "Jornal do Brasil", Dezembro/1997.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Caipiras no Palco




Teatro na São Paulo da Primeira República 

Dentre as personagens atuantes no acidentado palco da brasilidade, ao longo da Primeira República, Cássio Melo foca o caipira. As antinomias rural /urbano, regional/nacional, tradição/modernidade corporificam-se no personagem que oscila entre ingênuo e espertalhão. Na dramaturgia paulista e também na carioca o rural conviveu muitas vezes com o urbano apesar do esforço letrado para impor a imagem edulcorada de um Brasil urbano. A vida de Cláudio de Sousa, médico e dramaturgo traduz essa ambivalência. Crítico do gênero musicado considerava-o obstáculo ao projeto de um “teatro nacional”. Mas foi graças à popularidade de uma de suas peças incluindo o tipo caipira que conquistara uma cadeira na ABL, coisa que Monteiro Lobato, divulgador do “Jeca”, não conseguira. Guiando-se pela historicidade o trabalho aponta vários brasis e sertões; ser moderno implicou em um percurso acidentado entre o boulevard e a  roça.

(MÔNICA PIMENTA VELLOSO. Pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa/RJ)

Cássio Santos Melo

Graduado em História pela Unesp de Assis, onde também concluiu seu mestrado como bolsista da FAPESP. Atualmente trabalha como professor na Universidade Federal do Acre e faz doutorado em História Social pela USP, cuja pesquisa tem como tema “A Lunda na obra histórico-literária de Castro Soromenho (1930-1968).

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